quinta-feira, 26 de maio de 2011

RUMO SUL

Jardim - Marcelo Novaes, arquiteto e paisagista.   Revista Arquart, 2005


RUMO SUL  
                                                       (letra e música: Achilles F. Abreu)

As águas correm
   Livres, tranquilas,
      Sobre o cascalho nú...
A gente corre
   Ou segue as filas,
      Busca um atalho ao sul...
                    A gente morre todos os dias
                    P'ra renascer co'a mancha branca do sol (do sol do amanhã),
                    Na marcha franca pro sul (pro sul de relva e lã),
                    Ah... a marca branda e o sal (o sal suado no afã)...
As aves cruzam
   O azul sereno
      Num voo alto e só...
A gente sofre,
   Vence o terreno,
      Engole asfalto e pó...
                    A gente morre todos os dias
                    P'ra renascer co'a mancha branca do sol (do sol do amanhã),
                    Na marcha franca pro sul (pro sul de relva e lã),
                    Ah... a marca branda e o sal (o sal suado no afã)...
                             Há quem não chore?
                             Há quem não ria?
                             Há quem não veja a mancha branca do sol pela manhã?
                             Há quem não chore - eu disse,
                             Há quem não ria - eu disse,
                             Há quem não veja - eu disse - a mancha branca do sol pela manhã.




          RUMO SUL coteja natureza e cultura (civilização? progresso?).   É uma interpretação, a um nível de leitura, que parece válida ainda .   Há três décadas e um pouco mais, quando foi escrita, existia por certo um menor grau de poluição das águas (fluviais, lacustres, marítimas, glaciais, subterrâneas, de precipitação).   Observava o autor: "As águas correm, livres, tranquilas, sobre o cascalho nu..."   Hoje possívelmente as águas se encontrem mais estagnadas - já não corram tão livres, tranquilas - e o cascalho, sumido entre entulho de toda espécie, carreado para os mananciais, já não se vê... a reluzir nas suas formas arredondadas e lisas.
          A luta cotidiana das pessoas continua, num mesmo azáfama: corre-corre; perda de tempo; atalhos e descaminhos...   Vão-se, engolidas pelo terreno.   "Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris".
         À época (era o ano de 1976 quando foi escrito e musicado), a leitura e interpretação do poema tinha mais a ver com a questão da liberdade.

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