segunda-feira, 9 de abril de 2012

INTERMEZZO

INTERMEZZO

Tenho andado preguiçoso.   Há algum tempo não tenho postado aqui novas narrativas de velhas histórias que insistem em fazer redemoinho em minha mente como "o vento dentro de uma caixa de correio".   Já ficou meridianamente claro para meus estimados leitores que este é um blog de reminiscências cujo escopo primordial é louvar, prestar homenagem a pessoas (e coisas, e lugares, e momentos) que a mim fazem ou fizeram companhia nessa já longa estrada da vida.   Não se trata de vangloriar-me pois é ínfima a parcela de contribuição que eventualmente eu possa ter oferecido aos demais.   Também não se trata de passadismo retrógrado... o passado não é certamente o melhor lugar para se estar.   Mas ainda pretendo discorrer sobre trabalhos realizados na área teatral, de forma amadorística, trazendo ao conhecimento dos que me honram com seus acessos a este modesto blog não só relatos de "sucessos", mas também de tentativas que não vingaram, propriamente.   Aguardem!   Quero comentar aqui sobre nossa concepção de espetáculos (que por uma razão ou outra não puderam ir à cena, ao palco, não puderam ser montados - ficando apenas no ensaio geral) como "Troncos Podres", "Lua de Mel a três", e "Judas no Tribunal".   Aguardem, por favor!   

terça-feira, 13 de março de 2012

PARALELISMO POSSÍVEL?

PARALELISMO POSSÍVEL?

               Consumir é bom, produzir é ainda melhor.   Arte, por exemplo.   Ou conhecimento.
               Afastado há algum tempo da cena teatral (amadora) como realizador, não deixo entretanto de acompanhar - ainda que a distância - o que se produz aqui na nossa Franca ou mais além.
               Todo ano, no mês de março, a FETANP - Federação de Teatro Amador do Nordeste Paulista, com apoio da Prefeitura Municipal através da FEAC - Fundação para o Esporte, Arte e Cultura (anteriormente, Fundação Municipal "Mário de Andrade") apresenta seu Projeto Cultural ÁGUAS DE MARÇO com manifestações artísticas nas áreas de dança, de teatro, de música e outras (poesia encenada, monólogos, teatro de bonecos ou marionetes, canto coral) que são levadas ao público de forma gratuita (ou mediante ingresso 'social'), inicialmente apenas no Teatro Municipal "José Cyrino Goulart" e mais recentemente ocupando espaços diversos na cidade. 
               Este ano, na sua 23ª edição, a programação do ÁGUAS DE MARÇO vai de 16 a 25 e pode ser visualizada em www.francasite.com/index.asp
               Recordo-me do tempo em que tendo chegado a Franca (para assumir as funções de Agente Fiscal Metrológico no IPEM-SP Órgão Delegado do INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) vindo de Santos, onde já havia participado do movimento teatral amador, aproximei-me da FETANP, lá conhecendo José Aparecido Ribeiro, João Mamédio, Cardoso Jr. e tantos outros jovens entusiastas das artes cênicas.   Logo recebí convite para dirigir uma peça, voto de confiança depositado por Jô Ribeiro e demais membros da FETANP que tinham a seu encargo um grupo numeroso de jovens interessados no aprendizado do fazer teatral.   Foi-me atribuído um grupo de rapazes e moças (que se mostraram todos muito talentosos) e um texto: Édipo Rei, de Sófocles, em adaptação de Jean Cocteau e tradução de Maria Clara Machado.
               Alguns fatores concorreram para facilitar o nosso trabalho de concepção, direção e produção do espetáculo, a saber:
1 - Além da pesquisa que fiz (fizemos) sobre Édipo Rei, auxiliou-me o fato de já ter assistido a encenações de outras tragédias gregas, clássicas, por grupo amadores, como "Antígone" (também de Sófocles) e "Prometeu Acorrentado" (de Ésquilo).
2 - Também foi de valia o mini-curso sobre Mitologia Grega apresentado por Sira Napolitano (mestranda à época, se não me engano) no espaço da FETANP.
3 - O concurso de pessoas de Santos, especialmente Mônica Batista, através do Artevida Produtos de Palco, principalmente no tocante ao figurino (design e confecção).
4 - Grego Defterios, de passagem por Franca, instruiu atores - especialmente na construção da personagem Jocasta (direção de ator/atriz).
5 - O momento político brasileiro à época: Collor x Lula.   Collor prometendo acabar com a (hiper)inflação monetária  - e com os "marajás" - mediante um "ypon" ou usando "uma única bala, um único tiro", que deveria ser "certeira(o)".   E governar para os "descamisados e pés descalços"
               O texto de Édipo Rei nos permitiu então estabelecer - aleatoriamente, claro - alguns paralelos:
               inflação = peste
               ypon, ou tiro certeiro = decifração da esfinge
              descamisados e pés descalços = o figurino tinha túnicas brancas que cobriam o colo e os antebraços, e sandálias, para os "reais" Édipo, Jocasta, Creonte... e túnicas pretas deixando à mostra parte do colo e antebraços, e sem qualquer tipo de calçado, para os integrantes do Coro, para o pastor de ovelhas, para o cego Tirèsias...
               Collor x Lula (luta de classes, perigo do caos) = Ao dizer o 'prólogo', o ator - interpretando  o Corifeu - vestindo túnica vermelha, segura em cada mão (direita e esquerda) longas tiras largas de tecido branco e preto que agita, em embate constante.
               Continuidade da disputa política = Ao final da peça, Édipo caído em desgraça, tendo perdido Jocasta, a mãe, que se mata (já havia assassinado Laio, o pai, ainda que sem o saber), tendo propositalmente cegado a si mesmo face ao horror, percebe adentar o átrio sua filha Antígone (atriz mirim, vem vestindo túnica vermelha).   Luz vermelha geral inunda a cena.  Archotes, tochas incandecentes portadas pelos integrantes do Coro fomam um círculo, distante, ao redor de Édipo... 
               Ao decifrar o enigma proposto pela esfinge Édipo temporáriamente afasta a peste, e conforme promessa de Creonte, habilita-se a desposar Jocasta e reinar sobre Tebas.   O herói trágico, o herói das tragédias clássicas gregas é um homem virtuoso.   Visualizamos em Édipo uma imprudente impetuosidade e certa soberba, orgulho.   Impressão colhida nas falas do Coro, do cego advinho Tirésias e também das imprecações proferidas por Édipo Rei em um extenso monólogo a certa altura do texto de Sófocles.
              E em 1989, com pouco mais de 51% dos votos válidos, o jovem, bom moço, é eleito e conduzido ao governo de uma Tebas tropical... como o mais jovem presidente deste país (e das Américas), permanecendo de 15 de março de 1990 até 29 de dezembro de 1992.   O desenrolar dessa história e seu desfecho são conhecidos sobejamente.   Paralelismo possível?

  
              

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Jovens e Talentosos (REBULIÇO DE ARTES)


Jovens e Talentosos (REBULIÇO DE ARTES)

                Foto - Recorte do jornal Cidade de Santos, ed. de sexta-feira, 27 de janeiro de 1984.

Na foto: da esquerda para a direita, na primeira fila - Eliege Caldas, Marcelinho, Célia Abadia, Nélio Mendes, Marcelão, Germano Dorna, Achilles Abreu, Alberto (português); na segunda fila - Ramos Junior, Márcia Nascente, não identificada, Mônica Batista, Ana Vinhas, Conceição Almeida, Ozenir Ancelmo, Massato Okamoto, Toninho (português); na terceira fila ao fundo - João Carlos Fonseca, Sérgio Perales, Domingos Paulo, Márcio Miorim e Ivo Bulhões.



VER MAIS: 30 Anos das Oficinas Culturais    
 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

DIA DA AMIZADE

DIA DA AMIZADE

     Na canção "Lingua" - refere-se à língua portuguesa - Caetano Veloso pontifica: "a prosa está para a poesia assim como o amor está para a amizade; e quem há de negar que esta lhe é superior?"
     Hoje, 14 de fevereiro, é celebrado o Dia da Amizade.   É também o Dia dos Namorados (Valentine's Day) comemorado em vários países, de língua inglesa especialmente.   Cabe mencionar que nesses países, nos Estados Unidos principalmente, os cumprimentos não se dão apenas entre amantes, pessoas apaixonadas ('in love'), mas também entre aquelas que têm entre si fortes laços de amizade.
     Vejo, na rede social Facebook, um post em que alguém reclama, critica, de forma radical até, o fato de aparecer ali na rede, por parte de brasileiros, manifestações de apreço, até de paixão mesmo, escritas em língua inglesa e fazendo referência ao Dia de São Valentim (Valentine's Day) suscitadas pelo transcurso de mais um 14 de fevereiro.   Sua crítica, em parte até compreensível, centra-se no aspecto de mente colonizada ("Atitude de colônia!" - sic) de quem assim procede.   Acrescenta ele que só se poderia relevar esse (ab)uso no caso de moradores no exterior ou de quem tenha familiares e/ou amigos lá fora.   Tudo bem, é o meu caso.
     Postei, como tenho postado eventualmente, texto em língua inglesa - relacionado com o tema Dia dos Namorados (Valentine's Day) - e justifico, ou melhor, explico.   Embora não haja necessidade, creio.  
     Sou professor efetivo de Língua Estrangeira Moderna - Inglês na rede pública estadual paulista (Ensino Fundamental e Ensino Médio).   Tenho como "audiência" na rede social Facebook inúmeros alunos e ex-alunos para os quais, certamente, poder ver contextualizado o uso do idioma reforça o aprendizado em sala de aula de língua, literatura e cultura.   O mundo se globalizou, o inglês atingiu o status de lingua franca, língua internacional, preponderante nos negócios, na política, na ciência e tecnologia... e no entretenimento (Por que não dizer? Vide músicas, filmes, jogos, etc.)   Aprender uma segunda língua é praticamente uma necessidade.   Pior do que se aborrecer com o inevitável (tentou-se através de Projeto de Lei de autoria do deputado Aldo Rebello banir todo e qualquer estrangeirismo) é fechar os olhos para o fato de que tantos não dominam a Língua Pátria, o Português, "última flor do Lácio, inculta e bela". E, voltando a Caetano Veloso, "o que quer, o que pode essa língua?"
     A língua portuguesa nos foi legada a partir da chegada a estas plagas dos portugueses que ousaram ir "ainda além da Taprobana, em perigos e guerras esforçados", à época do Descobrimento por Pedro Álvares Cabral, na esteira das Grandes Navegações, do Descobrimento do Caminho Marítimo para as Índias, com o império português fazendo colônias nos mais variados cantos do mundo, etc, etc.
     Os impérios se expandem, entram em decadência e se sucedem desde o início da História.
     Quem se der ao trabalho de visualizar no Facebook o post que deu mote a este meu texto verificará a enorme quantidade de comentários gerados (a favor e contra), debate que me parece muito saudável.
     Por fim gostaria de dizer que casei-me num dia 14 de fevereiro!   Se você, leitor, faz questão de realçar o dia 12 de junho como único dia a ser comemorado como Dia dos Namorados por aqui, eu proponho que brindemos as duas datas e pronto.   Aliás, amor e amizade todo dia!   Bom demais, né?   Abraço cordial ao amigo leitor.        

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ODOYÁ !

ODOYÁ !

                                        "Sonhei que eu era um peixinho dourado
                                        Na beleza das águas vi um mundo encantado
                                        Vi sereia a cantar, Vênus que nascia da espuma do mar
                                        (...)
                                        Yê Yemanjá
                                         Iara Mãe d´água sereia Rainha das ondas do mar..."


          Hoje é 2 de fevereiro, dia dedicado a Iemanjá - um dos orixás mais populares.   Ficou gravado na memória (minha e de tantos) o samba-enredo da Escola de Samba X-9, santista, do qual reproduzo parte da letra, acima.   Fico devendo a menção à autoria deste que é para mim um dos mais lindos sambas de enredo de todos os tempos.   Àquela época os desfiles eram realizados na Avenida Vicente de Carvalho, na orla da praia, com grande afluxo de público.   Depois, foram transferidos para a Avenida N. S. de Fátima, na Zona Noroeste, com algumas vantagens - dentre outras, a preservaçao do belíssimo jardim que margeia toda a extensão da fantástica faixa de areia da orla marítima, jardim esse incluído no Guinness Book como o mais extenso ( e belo!).      
          Nascí em Santos, SP, sou praticamente (ou teoricamente) um caiçara.
          Nascí de berço católico, apostólico, romano.   Fui coroinha e rezei missa em latim.   Vestia aquela batininha e sabia de cor e muito bem o significado de um "sursum corda", um "Agnus Dei qui tolit peccata mundi", um "Dominus vobiscum", um "Deo gratias".   Em grande parte, graças à Dona Dagmar, minha saudosa e extremada mãezinha.
          Das quatro filhas do Sr. Laércio  e Dona Gertrudes, meus avós maternos, minha mãe foi católica praticante a vida toda.   Fez o bem.   Seja nas Pastorais (da Saúde, Carcerária, etc), seja acolhendo, orientando,  indicando e colocando pessoas no caminho de suas potencialidades.       
          As outras três irmãs dela, minhas tias Guiomar, Odete e Dirce tinham cada qual escolhido um caminho para o Alto.   Guiomar, morando nos Estados Unidos, protestante (anglicana); Odete, morando na Argentina, espírita (kardecista); e Dirce, morando no Brasil, umbandista.  
          Penso que todos os caminhos levam ao Alto, já que todos compartilham do essencial: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo".   Na política, que ainda não é mas poderia (deveria) ser forma suprema de caridade, conforme Santo Agostinho (ou seria São Tomás de Aquino?), isto é o bem comum.
          Sempre me assomou o pensamento o fervor evangélico, a ciência kardecista, o enlaçe telúrico umbandista.   Continuo católico, apostólico, romano, com espírito ecumênico e respeito pelas crenças de outrem.
          Hoje é 2 de fevereiro, dia dedicado a Iemanjá.   Salve!   Odoyá ! 


Para ouvir Leci Brandão, cantando Saudação a Iemanjá acesse o link http://youtu.be/KvhpFsXzOo0

domingo, 1 de janeiro de 2012

ANO NOVO


ANO NOVO

   Os ponteiros do relógio, o irmão mais velho já tendo dado muito mais voltas do que o irmão mais novo sobre o círculo fosforescente marcador do tempo, invenção humana, e da vida, se sobrepoem um ao outro no pico escuro da meia-noite de mais um ano que chega ao fim para o iniciar esperançoso de um Ano Novo, novinho em folha.   Saudemos mil novecentos e setenta e...   Estou em Alagoinhas, BA no meio de uma gente festeira que é o povo baiano, e o brasileiro de um modo geral, e embora estejam todos visivelmente alegres, felizes, não há euforia propriamente.   Não há agitação, barulho, correria, confusão.   Estão todos tranquilos, a caminhar "lindos, leves, soltos" pela praça ampla mas de árvores baixas e de pouco colorido floral.   Povo ordeiro.   A paz reina nestas plagas.   Para minha surpresa - não havia visto isto  em lugar algum antes ou depois - ouve-se nos alto-falantes o Hino Nacional Brasileiro, comovente, e só depois então o espoucar de fogos de artifício comemorativo da passagem de ano.   Meninos, eu vi... eu ouvi.
Alagoinhas,BA - "pórtico de ouro do sertão baiano".   Terra do escritor e editor Adson Vasconcelos, já reverenciado neste blog.   Estou na Bahia de Castro Alves, de Rui Barbosa, de Dorival Caimmi, de Jorge Amado, das baianas do acarajé, da comida apimentada, exótica e saborosa, da água de coco, do candomblé...   Vim à Bahia a convite do amigo crioulo Edson Bispo dos Santos - homônimo do pivô, e ex-técnico, da seleção brasileira campeã mundial em 1959 - e seus familiares, gente muito amável.   Ao final desta minha estadia por aqui terei conhecido também Ouriçangas, Olhos d'Água, Feira de Santana e, claro, a capital do estado, Salvador - com o Farol da Barra, o Mercado Modelo, o Elevador Lacerda, a Lagoa do Abaeté, o Pelourinho, a Barroquinha, a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, a Procissão dos Navegantes...   Saravá!   Muito axé neste ano que se avizinha!