sábado, 30 de julho de 2011

WAVE!

A ONDA
                             Manuel Bandeira


a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda   a onda



~~  W A V E  !!!  ~~ 

          Recentemente, os amigos, fomos brindados com a postagem no Facebook de fotos de colega professora, nossa companheira de jornada na árdua, porém gratificante, missão de ensinar a crianças,  jovens e adultos.   Eram fotos de álbum de família.   
          Em meio às fotos lindíssimas, estava estampada a poesia concreta de Manuel Bandeira, A Onda ("Aonde anda a onda").
          Busquei, sem êxito, identificar nexo causal entre as fotos do belíssimo álbum de família (onde o sorriso largo nos rostos e a indizível alegria nos olhares eram mais que adorno perfeito do exemplo de família feliz) e o referido texto poético, transcrito acima.  
          Foi assim que resolvi arriscar e juntar a ideia de onda à imagem de um sorriso e compor uns versinhos, apressadamente, permitindo um fluxo de (in)consciência, de livre associação de signos.   Sem maiores pretenções...   Sem segundas intenções...   Sem onda...

A onda gigante tsunami
A onda radioativa Fukushima
A onda verde dos ianomami
Chico Mendes
Zé Claudio
Stang
tantos
A onda assassina.
A onda... essa sina...
A onda só marola, marolinha
Bem lulinha, paz e amor
A onda Jack Johnson, surf e internet
A onda virtual
Wall Street
('hot money')
Ondas do rádio, tv, mobile phones
"A onda que quebrou no mar"
Me trouxe até você
Me jogou na areia
Me quebrou a cara
Alva onda refrescante do seu sorriso lindo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

PÃO

PÃO

          Tenho em mãos uma embalagem confeccionada em papel pardo destinada a acondicionar pão de sal - ou pão francês, como se diz - e que me chama a atenção de modo especial.
          Esses "pacotes", ou "cartuchos", ou "sacos", em papel pardo ("papel de pão"), como tantas vezes são referidos dependendo do regionalismo, têm sido substituídos ultimamente por embalagens plásticas que não têm, a meu ver, o mesmo charme da embalagem tradicional; além de constituirem-se em agravante das questões ambientais (sabemos: o papel é biodegradável, ao contrário do plástico).
          Mas o que há nesta embalagem específica que tenho ora em mãos que me chame tanto a atenção e, mais do que isso, me dá uma grande satisfação?
          Alí, pode-se aprender que para cada 50 gramas de pão tem-se, como valor nutricional, 134,50 kcal; 4,65 g de proteínas; 28,70 g de glicídios; além de dosagens de lipídios, colesterol, e minerais como cálcio, ferro e fósforo.   Interessante.   Mas isso, certamente, é obrigatoriedade definida em legislação pertinente.
          Ali, temos também impressas, sob os respectivos logos (signos), as legendas "embalagem reciclável" e "mantenha a cidade limpa".   Importante.
          Também ali, centralizado, em caixa alta e em cores vivas, lê-se o nome fantasia do estabelecimento - uma padaria situada no bairro Jardim Paulista, em Ribeirão Preto, SP - acrescido da Razão Social e respectivo número de inscrição no CNPJ, do endereço e dos dizeres de "grato pela preferência" e do slogan.   (Pode não parecer, mas não há poluição visual ali presente.   Todo o espaço foi bem aproveitado.)
          No entanto, o que esta embalagem tem a mais, em relação a tantas outras, é o fato de trazer impresso um poema de Fernando Pessoa que faço questão de reproduzir aqui:

" Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.   E que posso evitar que ela vá à falência.   Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.   Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.   É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.   É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.   Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.   É saber falar de si mesmo.   É ter coragem para ouvir um "não".   É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.  Pedras no caminho?   Guardo todas, um dia vou construir um castelo... " 

          De imediato me vêm à mente os versos de Moraes Moreira na música "Pão e Poesia", que acostumei a ouvir na interpretação de Simone.
          Acorrem, também de pronto, os versos de "Comida", música dos Titãs interpretada soberbamente por Marisa Monte.
          Assim, se dentro da singela embalagem se coloca o pão do corpo, por fora dela se estampa como pão da alma um poema.
          Tal exemplo maravilhoso deveria se disseminar - promovendo, recuperando uma maior sensibilidade já perdida no caos cotidiano... - substituindo, por fim, o embrutecedor "panis et circensis" romano remanecente na avalanche de mensagens que sobre nós desaba de forma mais direta, mais invasiva, mais imediata e estúpida.
          Poesia urgente.  
          Poesia,  já!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

ERA UMA VEZ

ERA UMA VEZ                                                                             
               (letra e música: Achilles F. Abreu)



Era uma vez
Um reizinho malvado...
Muita gente sei
Só nele tem falado,
Vejam bem...
       
          Fôra solidão
          Aquele seu reinado...
          Sempre até que
          Se viu apaixonado
          Por alguém...

Neste dia bela fada
          Com um seu toque aqueles dois juntou...
Através de lindo sonho
          Até a Terra do Amor os levou!...

Era uma vez
Uma pobre menina...
Porém linda sim,
Estrela pequenina...
Uma flor!

          Pobre de amor
          Como aquele reizinho,
          Num milagre viu
          Nele o seu benzinho,
          Seu amor!...

Neste dia bela fada
          Com um seu toque aqueles dois juntou...
Através de lindo sonho
          Até a Terra do Amor os levou!...

          E assim, felizes viveram
Pobre menina e seu pequeno rei...
          Você também vai crescer, vai
Amar um dia, lembrando o que contei.

          Um, dois, três...
                  Era uma vez!



                                                ERA UMA VEZ ocupava a página 7 da edição do autor, de 1985, e tinha como dedicatória: (à Tarsila, no encanto dos seus seis anos).
                                                A cantiga fora gravada em fita K-7, com acompanhamento de violão, pelo autor, e - com mensagem inicial em tom coloquial expressando admiração pela mãe - foi ofertada à pequena aniversariante, Tarsila, que recebia em petit commiteé em casa de sua mãe, então divorciada, alguns amigos para celebrar o dia de seu natalício.
                                                Além da gravação desta cantiga, como singelo presente, levei o amigo Alamar (Antonio Laerti Marioto, que faleceria pouco tempo depois) para apresentação de números de magia e comicidade, dando assim o tom, criando o clima de festa de aniversário de criança - ele que se caracterizava como o palhaço Mexerica (criação sua).   Fui buscá-lo em Santos onde trabalhava como funcionário da Prefeitura, lotado no Teatro Municipal "Patrícia Galvão", serviços gerais, e levei-o até São Paulo em um fusquinha emprestado.   Tínhamos horário para voltar pois Alamar cumpriria horário de trabalho naquela mesma noite, a partir das 21 horas.   Ainda sobre o amigo Alamar, diga-se: atuava no teatro amador santista, além de ter escrito uma peça infantil, "Os Palhaços Mágicos da Praça" (cujos direitos de autor deixara para um sobrinho seu - o pequeno Paulo César, também já falecido - que sofria de uma enfermidade progressivamente incapacitante, deformante).    Concomitantemente, ajudava na farmácia dos irmãos e era também sócio-proprietário de uma banca de jornais.
                                               Salve, Alamar!   Evoé!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

UM PAR DE BRINCOS

UM PAR DE BRINCOS
                      ( Achilles F. Abreu )


Somos os dois tão iguais
                 nós...   cais...
                        linhas da mão...
Somos tão sentimentais
                 sóis...   ais...
                        em solidão!...

" ...E solidões, você bem sabe:
         Não se repartem, como não se somam;
                 Apenas se colocam
                                  lado    a    lado... " (1)

          - Como um par de brincos!

No trabalho do artesão
   Que retorce o metal
      E vai polindo o coração

Realiza-se afinal
   Dois olhares / solidão:
      Você e eu...   e o nosso mal!


     Estes versos estão estampados na edição de 1985 do autor, à página 9, onde consta a dedicatória: (à Cacilda).

    Recordemos Manuel Bandeira:  " Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
                                                               A alma é que estraga o amor.
                                                               Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
                                                               Não noutra alma.
                                                               Só em Deus - ou fora do mundo.
                                                               As almas são incomunicáveis.
                                                               Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
                                                              Porque os corpos se entendem, mas as almas não. "
                                                                                                                      (A Arte de Amar)*

* Sob o título A Arte de Amar pode-se ler ainda "Ars Amatoris" - título original, o verdadeiro compêndio escrito por Ovídio (Publio Ovidio Naso) sobre as estratégias e técnicas da sedução; ou ainda "The Art of Loving" - título original, de Erich Fromm, sobre a psicologia do Amor... "um amor que é composto de madureza, auto-conhecimento e coragem"... "a única resposta sadia e satisfatória para o problema da existência humana". 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O SEU JOGO E O SEU PREÇO

O SEU JOGO E O SEU PREÇO
               (letra e música: Achilles F. Abreu)


Amor
Não se compra, não se vende...
A gente troca ou facilita...
Taí,
Não sei se você me entende,
Você se acha tão bonita...
E daí?

          Menos vale a forma
          Do que o conteúdo,
          "Cê num tá cum nada",
          Pensa que tem tudo...

Mulher,
Eu não compro, eu não vendo
Amor - só troco ou facilito...
Pois é,
Tenho em mim o seu veneno,
Tenho corpo de delito...
E acabou!

          O seu jogo e o seu preço
          - Não me atrai;
          Tenho novo endereço,
          Sai de mim, agora sai...

                    Nunca mais.
                         Nunca mais.